Por Que o Referendo na Itália Não Deu Certo? Entenda os Motivos

Quais eram as propostas?

Em 8 e 9 de junho de 2025, os italianos foram às urnas em cinco consultas populares visando revogar normas relacionadas ao mercado de trabalho e à lei de cidadania naturalizada.

A proposta mais emblemática era reduzir o tempo de residência exigido para obtenção da cidadania de 10 para 5 anos, beneficiando cerca de 2,5 milhões de estrangeiros residentes.

As demais se referiam à reversão de flexibilizações promovidas pelo Jobs Act.

2. Por que o referendo não passou?

O principal obstáculo? Baixa participação. Apenas cerca de 30–31% dos eleitores compareceram às urnas — muito abaixo do quórum de 50% + 1 exigido pela legislação italiana.

Por isso, mesmo com maioria dos votos favoráveis em algumas perguntas, o referendo foi invalidado por falta de quórum.

3. Por dentro da estratégia política

A pouca adesão não foi por acaso. A primeira-ministra Giorgia Meloni que falou publicamente (veja a tradução no que ela disse):

“Penso que pedir para reduzir os anos de residência, dos atuais dez para cinco, para obter a cidadania italiana, é uma tolice, um disparate…Somente aqueles que vivem nas salas de estar de bairros elegantes ou frequentam clubes exclusivos, poderiam pensar que era uma boa ideia. E, se me permitem dizer, também denota um certo provincianismo, porque atualmente, há muitas pessoas que vivem pouco mais de cinco anos em um país estrangeiro e depois talvez se mudem para outro lugar. De acordo com a lógica daqueles que propuseram a redução, digamos ao reduzir pela metade o tempo para solicitar a cidadania. essas pessoas, a cada cinco anos, teriam direito a uma nova cidadania. Por isso não me surpreende, objetivamente, que – até mesmo muitos eleitores de esquerda tenham rejeitado a questão- muitos, na verdade, até mais do que eu imaginava rejeitaram.
Portanto, continuo com minha opinião de que na Itália existe uma excelente lei sobre cidadania, que não há necessidade de reduzir pela metade o tempo para solicitar a cidadania.
Além disso, recentemente, como vocês sabem, aprovamos no Conselho de Ministros um projeto de lei para acabar com os abusos da cidadania.
Diante até de sanguinis, isto é, daqueles que “inventaram origens italianas” para obter a cidadania.
Mas, por que pensamos assim? Porque acreditamos que a concessão da cidadania é um assunto sério e deve ser reservado para aqueles que têm um vínculo autêntico – uma conexão – com a nossa nação”

e sua coalizão de direita, além de figuras como Matteo Salvini, incentivaram o boicote à votação, afirmando que a consulta era “contra o governo”.

Meloni foi às urnas, mas se absteve de votar, enquanto sua base conseguiu enfraquecer as tentativas progressistas .

4. O que os resultados revelam?

Apesar do quórum não alcançado, em torno de 65% dos presentes votaram “sim” na pergunta sobre cidadania.

Ainda assim, a vitória simbólica foi anulada. O resultado fortaleceu ainda mais Meloni, reforçando a divisão política e destacando um debate ideológico: imigração e integração versus controle e preservação identitária. .

5. As consequências (e desafios à frente)

  1. Regras atuais mantêm-se vigentes: continua exigido o mínimo de 10 anos de residência para naturalização, com raros casos de exceção.
  2. Eleições de 2027: a direita sai mais confiante, com Meloni politicamente reforçada.
  3. Crise democratica e revisões: especialistas e movimentos cívicos questionam se o sistema de quórum em referendos promove ou desencoraja a participação pública.
  4. Alternativas surgem: cresce o apelo por reformas legislativas por via parlamentar ao invés de plebiscitária, ou até por ajustes no próprio quórum mínimo.

Conclusão

O fracasso do referendo italiano em junho de 2025 não foi um simples tropeço técnico, mas o reflexo de uma batalha política profunda.

Temores sobre imigração, táticas estratégicas da direita, falhas de mobilização pela esquerda, e o impasse institucional que poupa mudanças, mesmo apoiadas.

A história mostra: referendos podem expressar o sentimento popular — mas só se o povo de fato for às urnas.

Para garantir mudanças reais, vão além do voto: códigos precisariam ser reescritos, alianças formadas e a participação democrática resgatada.

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